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“NENHUM BICHO BARBADO SE ATREVEU A MANTER A DISCIPLINA”: debate sobre a indicação de Esther Pedreira de Mello para a direção da Escola Normal do Distrito Federal (1920- 1923)

Artigo apresentado no 7 Congresso Brasileiro de História da Educação, em Cuiabá, 2013



Heloisa Helena Meirelles dos Santos
UERJ



A Escola Normal na berlinda[1]

A imprensa cotidiana da cidade do Rio de Janeiro clamava por um diretor que moralizasse a Escola Normal do Distrito Federal, o que acreditavam que o professor Ignácio Azevedo do Amaral não fazia, e a Prefeitura nomeia, então, a “tão conhecida e não menos ilustre pedagoga Esther Pedreira de Mello para Directora da Escola Normal” [2] (Jornal das Moças[3], 20//04/1920, ano VIII, nº 254, p.1).

Merece todos os aplausos o acto do prefeito hontem nomeando D. Esther Pedreira de Mello para dirigir a Escola Normal. Quando hontem mesmo profligamos os fatos que determinaram o pedido de demissão do dr. Ignacio Amaral, indicámos o nome da brilhante pedagoga como o único capaz, dadas as circumstancias da occorrencia, de substituir, em benefício da instrucção pública e da moralidade administrativa o diretor demissionário. Felizmente o Sr. Sá Freire soube corrigir com uma solução acertada o desastre do incidente, que ia atingindo de morte aquelle instituto. Severos ao julgar o escândalo que feriu fundo a disciplina da Escola Normal e as condições de sua eficiência, sentimo-nos bem agora, aplaudindo o acerto da nomeação. D. Esther Pedreira de Mello tem, ao serviço do ensino municipal, uma tradição incontestável de competência, energia e  elevação moral, o que basta para garantir o êxito de seus novos encargos. Educada no estabelecimento cuja direção acaba de assumir e tendo granjeado, no magistério, um prestigio de rara evidencia pelas suas extraordinárias qualidades de educadora, ella está por assim dizer, em família nas funcções que lhe foram tão justamente confiadas. É de esperar que não se criem embaraços de nenhuma ordem à sua acção. Esta será, com certeza, útil, proveitosa e dos mais assignalados benefícios. (Correio da Manhã[4], 17/04/1920, p.3)


Por que Esther Pedreira de Mello era a “única capaz de substituir em benefício da instrução pública e da moralidade administrativa, o diretor demissionário”, como publica, em texto laudatório o jornal Correio da Manhã?
Em 1920 as representações sobre a mulher estavam sendo modificadas pelo fim da primeira guerra mundial que “reorganizou”, modificou e resignificou o mundo, tal como era conhecido. Mas a moralidade era, ainda, inerente à mulher[1]. Ela era, ainda, na representação da sociedade carioca, aquele indivíduo capaz de educar e imprimir valores considerados dignos a quem educava. Elias (1990) explica este movimento lento do tecido social face à uma representação, reafirmando sua existência, face às condutas e os códigos delas advindos que se operam pausadamente porque a assimilação deles pela sociedade não é imediata (p.94).
Naquele momento, por conta de novas representações sociais que surgiam no pós-guerra, era visível o confronto de paradigmas, as estratégias de dominação de um grupo por outro e os discursos contraditórios que apareciam nos jornais, especialmente quanto à mulher. Ao encontrar e selecionar os textos dos jornais como fonte tive primeiro que entendê-los como “bens simbólicos” impregnados de “usos e significações diferenciadas” (CHARTIER, 1991, p. 172). Assim, a escrita de cada matéria apresentava, nas entrelinhas, a legitimação do domínio da representação de gênero, sua desqualificação ou sua fragilização, tomada por hegemonia.  Essa escritura era traduzida na linha política do jornal, na representação que desejava ajudar a construir/desqualificar e, no lucro material ou simbólico a ser auferido com a circulação do periódico.

Se, por um lado o ideário republicano propiciava às mulheres uma certa abertura – pela valorização que o ideário positivista conferiu ao gênero feminino e pelas possibilidades de autonomia individual introduzidas pelo pensamento liberal – a posição conservadora agia como freio a essas pretensões com base, sobretudo, nas concepções católicas e na atuação dos imigrantes ligados a esta confissão. (TINDADE, 2005, p.489).


O que podia parecer interesse oposicionista governamental; ou lucro maior da venda maciça de exemplares; ou defesa/infâmia de pessoas específicas, governos ou instituições, são tomados como intuito de instituir ou consolidar um bem simbólico (BOURDIEU, 2007), e dentre outras reproduções sociais, uma nova representação de gênero[5] de modo a modernizar, ainda sobre uma ótica civilizatória, a cidade e o país.
Creio ser este o caso do Correio da Manhã. Relevante notar, no entanto, que a matéria deste jornal cita haver indicado o nome de Esther Pedreira de Mello para ocupar o posto de diretora da Escola Normal. Teria a imprensa, e este jornal especificamente, este poder de “indicar”?
Diz Ruy Castro (2009) que o Correio da Manhã[6] era um jornal independente, fundado em 1901, por Edmundo e Paulo Bittencourt, que “fez oposição a quase todos os presidentes, desde Artur Bernardes”(p.43) e, na República Velha “demitia ministros com um editorial”(ibidem). Assim, é possível que a indicação tenha de fato ocorrido.
Chartier (1995), ao estudar a tensão do movimento de alteridade masculino versus feminino se interroga quais são os critérios de ligação da oposição entre feminino e masculino na escrita, e expõe as características indicativas de um gênero e outro. Neste momento de transição brasileiro, onde o que é visível esconde sombras de teor latifundiário e escravista, numa sociedade republicana, urbana e pós-abolicionista que se industrializava, o tema gênero oscilava, na imprensa, entre o que se queria e o que se deveria dizer sobre o sexo feminino. Ainda que os postulados, assim como o discurso da imprensa, fossem aparentemente liberais, o cotidiano e a escrita deixavam demarcado o autoritarismo, o que incluía o apadrinhamento, através de lutas simbólicas entre as representações: a que se impunha e a que se queria ultrapassar. É possível pensar, então, que Esther tenha sido indicada pelo jornal, para servir a uma “prática que se adaptava à estruturas e, portanto [a professora] tinha condições de reproduzir estas mesmas estruturas” (BOURDIEU, 2007, p.296);
Desde o final do século XIX a mulher ocupava fábricas, aprendia novas profissões, lançava-se ao trabalho fora de seu ambiente doméstico. A mulher, embora aparentemente “fora do lar”, continuava com os encargos, a tutela e a subserviência de antes. A imprensa, preocupada em vender jornais e ocupar, com seu produto, material e simbólico, este nicho mercantil feminino, buscava atendê-lo pela publicidade, por revistas femininas, em espaços específicos das folhas noticiosas e por novas tiragens e reportagens urbanas que visavam às mulheres. Até os jornais femininos eram, em grande parte, escritos por homens ou dele tinham a editoria, o que permitia, de certo modo, o coercimento de novas representações sociais.
Só pude conhecer o que levara o Diretor da Instrução Pública a exonerar o diretor da Escola Normal do Distrito Federal, e o Prefeito Pereira Passos a ocupar este cargo com a inspetora-escolar Esther Pedreira de Mello, primeira mulher nesta função de inspeção e primeira, do sexo feminino, a dirigir uma escola pública de formação de professores na capital federal, através dos indícios desta “luta de classificação” da representação de gênero (CHARTIER, 1990), nos discursos dos jornais diários da cidade do Rio de Janeiro, constantes do acervo da Biblioteca Nacional [7].
              Não havia, por parte da imprensa local, à época, nenhuma informação que levasse o leitor a questionar a razão de tantos problemas na Escola Normal após a saída da Praça da Aclamação para a Rua São Cristóvão, no Estácio, mas embora a mudança fosse aparentemente a causa das dificuldades, o discurso era individual, sempre injurioso e buscava, nas informações trazidas  à público que o leitor fosse saciado na sua curiosidade diariamente, em pequenos capítulos.
              Desde sua criação a Escola Normal era tida, pela população do Rio de Janeiro, como uma instituição séria, cuidadosa com a moral e os “bons costumes”, em uma postura apropriada, segundo a sociedade carioca, a quem vai “formar” professores. Era esta a representação que se fazia da instituição pautada nas características do feminino e do masculino, usando para isso o fato de um sexo ser, supostamente, emocional e passivo e outro sexo ser, supostamente, ativo e racional (RAGO, 1998, p.98).
Os periódicos, desde os primeiros dias de janeiro de 1920, vinham denunciando irregulares na Escola Normal de toda ordem, rendendo várias e ininterruptas notícias diárias, mas não havia, ainda, um fato relevante que alteração a situação institucional de qualquer modo possível, pela Instrução Pública. Os jornais colocavam em notas pequenas, na primeira, segunda ou terceira página, em destaque, em crônicas e pequenos artigos, as novidades da Educação face à civilização que se pretendia, dentre essas, as relacionadas com a Escola Normal, até porque os professores do educandário eram também os jornalistas, que emitiam opiniões em diferentes seções destes tabloides.

Entender o que significava “ser civilizado” [...] implica atentar para o jogo de forças que preside as significações inscritas nessa construção. Desvelá-las passa pela leitura do gênero de sua própria produção, como também de outras dimensões que lhe são constitutivas, de forma a permitir perceber como aquela leitura opera no estabelecimento das desigualdades entre os sexos ao imprimir diferentes “significados para as diferenças corporais” (SCOTT, 1994, p.13)


A imprensa reclamava dos exames “que eram verdadeiras bombas”(Gazeta de Notícias, 3/1/1920,p.3), de “diplomas falsos das candidatas” (Correio da Manhã, 13/1/1920, p.2), de uma amanuense “que era o árbitro soberano dentro da Escola” (Gazeta de Notícias, 18/1/1920, p.1), que “alunos sem média conseguiam fazer as provas” (Correio da Manhã, 18/1/1920, p.3), que houve uma grave e séria discussão, “quase chegando às vias de fato”, entre um pai de aluna e um professor, depois que “a alumna desacatara uma banca de professores[...]”: ”[...]uma scena![...]”(A Noite, 8/4/1920,p.2). Até que O Imparcial, de 16/4/1920 noticia que “era pensamento do Sr, prefeito convidar para ocupar o cargo [de diretora] D. Esther Pedreira de Mello, inspectora-escolar” (p.3). Havia notícia para os jornais. Havia público para ler. Havia construções de códigos e símbolos a serem aprendidos e partilhas culturais a serem determinadas, considerando que “não há prática ou estrutura que não seja produzida pelas representações, contraditórias e em confronto, pelas quais os indivíduos e os grupos dão sentido ao mundo” (CHARTIER, 1991, p.177)

A Escola Normal não tem mais um director: tem uma directora[8]


Notas e Notícias
A Escola Normal não tem mais um diretor: tem uma diretora, que é a sra. D. Esther Pedreira de Mello. Poderá essa professora normalizar um estabelecimento que só tem de normal o nome? Não, ninguém acredita que o consiga. Por melhores que sejam suas qualidades para o exercício do cargo e por mais acentuados os propósitos de bem servil-o, é humanamente impossível à distincta preceptora vencer a anarchia ali implantada e que promete subir ao auge com ostensivo e escandaloso  inccentivo do próprio diretor da Instrucção. Constrange confessal-o, mas a verdade é que a Escola Normal marcha para o completo desconceito. E o que é mais triste é que o mal vem do alto [...] Em taes circumstancias, não nos parece que haja motivos para dar os parabéns à Sra. D. Esther (Gazeta de Notícias[9],  17 de abril de 1920, primeira página)

            Chegava a nova diretora, ex-aluna e ex-professora da Escola Normal. Uma mulher solteira de 40 anos, uma “solteirona” como se dizia. Circunspecta, autoritária, enérgica. Estava ali para “moralizar a instituição”, conforme o jornal Correio da Manhã. Mas a explicação deste jornal seria suficiente? A Gazeta de Notícias, jornal conservador, de oposição ao Prefeito, não parabenizava a nova diretora esclarecendo que, “de normal a Escola só tinha o nome”. Possivelmente o periódico acreditava que, face ao “desconceito” institucional, só um homem teria o “saber” para resolver o problema. Tomando este saber como um conhecimento de gênero, é possível imaginar que “o saber é que estabelece [ria] significados para as diferenças corporais” (SCOTT, 1994, p.13) que o jornal citava na matéria.
Não acredito que a notícia de uma mulher a dirigir a Escola Normal tenha sido bem recebida pela Congregação. Ainda que a mulher tivesse sido ex-aluna da instituição, e da maioria dos professores que a compunham. A Congregação era conservadora, era praticamente autônoma para decidir sobre o educandário e neste caso, não decidiu. Era composta de intelectuais que se reuniam para debater e discutir sobre vários assuntos (SANTOS, 2011). Aceitariam ser presididos por uma mulher? Aceitariam ser presididos por D. Esther Pedreira de Mello que, ainda normalista, fora alçada pelo Prefeito Rodrigues Alves à professora de Pedagogia, ocupando lugar nas sessões e dando opiniões nos assuntos discutidos na Congregação?
Em 6 de maio o Jornal das Moças publicou uma página inteira sob o título “Chronica”, onde se posiciona contra a prepotência de Esther junto aos normalistas,  uma contradição, pois que havia saudado a entrada dela como “dois outros triunphos femininos fizeram-se notáveis no magistério publico, a nomeação da tão conhecida e não menos illustre pedagoga Esther Pedreira de Mello para diretora da Escola Normal e da Dra. Myrthes de Campos, uma das glórias do magistério publico, para inspectora-escolar[...]”(29/4/1920,p.1). O jornal reclamava das medidas tomadas: de que as normalistas não podiam frequentar os estabelecimentos da região, somente podiam sair da Escola Normal duas a duas, não podiam dirigir-se aos professores sem a presença de uma inspetora, etc. Medidas que os jornais clamavam, denominando-as de “moralização”. O Jornal das Moças usou, em sua crítica, de modo satírico, o poema “As Pombas”, de Raimundo Corrêa[10], conhecido e muito lido nas revistas femininas:

“Vae-se a primeira pomba despertada.”

E com o despertar da pomba a primeira normalista que pressurosa se ergue, para o apresto de vestuário e para a partida e demanda da Escola Normal.

Vae-se outra mais... mais outra... enfim, dezenas
De pombas vão-se dos pombaes, apenas
Raia, sanguínea e fresca a madrugada.”

Tal qual as normalistas que, como um passaredo em revoada, barulhento, a volitar, despertam ao romper d’alva, ao dealbar do dia para receber ensinamentos na escola Normal e submeter-se ao jugo prepotente da onisciente D. Esther Pedreira de Mello. Porém, se as pombas vão-se quando raia a madrugada sanguínea e fresca, vão as normalistas, ainda que quente e chuvoso tenha sido o dilúculo. É que sobre ellas pesa o ameaçador livro de chamadas e a vigilância cerberea das inspectoras ferrenhas, apegadas a teorias insultas.[...](p.1)



            Importante ressaltar que O Jornal das Moças, publicado no Rio de Janeiro, a partir de 1914, fundado por Agostinho Menezes e editado pela Editora Jornal das Moças Ltda., (SANTOS, 2008) se enquadrava no aproveitamento do nicho comercial feminino pela imprensa. Apesar do nome sugestivo, alusivo ao sexo feminino, era redigido por homens. Deste modo suas posições se mostram ambíguas e contraditórias: ora saúdam uma mulher a dirigir a Escola Normal, ora reclamam satiricamente das atitudes desta mulher no exercício daquele cargo porque as diferenças entre os sexos são aspectos primeiros da organização social e estabelecem diferenças fundamentalmente culturais que impedem, de certo modo, que um gênero fale pelo outro imparcialmente (KOFES, 1992).
As memórias de Paschoal Lemme (2004), que trazem de volta o aluno normalista de 1920, fornecem indícios, de como Esther foi recebida na Escola Normal:

Assim foi a revolta, principalmente dos rapazes, contra a nomeação de Ester Pedreira de Melo para diretora da escola, a primeira mulher a ascender a essa posição, apesar de ser professora de renome e também uma das primeiras a ocupar o cargo de inspetora escolar. (p.120)


Os alunos normalistas rapazes eram poucos, segundo o próprio memorialista, mas eram 2.950 normalistas, de ambos os sexos[11], matriculados em 1919. Embora poucos, os rapazes reclamavam, e a imprensa que estava atenta à Escola Normal, usou o sexo da diretora para designá-la intrigante e conflituosa, omitindo as palavras, talvez por conta do novo Código de 1916, que faria o jornal enfrentar um processo:

Em tempos passados o Instituto de Música tinha o paradoxal privilegio de ser a casa... das desarmonias. Por um nada fervia, dentro do estabelecimento, um “imbróglio” de todos os diabos: director contra professores, alunos contra diretor. E ninguém se entendia. Agora o Instituto vai sendo desbancado, vantajosamente, pela Escola Normal, o que mostra que o ensino nesta capital anda em maré de má sorte. Effectivamente, em poucos dias, a Escola tem sido agitada por uma série de conflitos e intrigas que fariam inveja a qualquer hospedaria de má nota. E quando se pensava que, entregue o estabelecimento a uma direção feminina, as virtudes peculiares ao sexo – a bondade a ternura – iam ali dominar surge um novo desaguisado. É a própria diretora que arma o charivari com suas medidas de extrema severidade e com os actos de seu antecessor. Não damos parabéns a D. Esther, por sua estréa barulhenta.(Gazeta de Notícias, 10/05/1920, primeira página)


Em 8 de maio A Noite, sob o título de “A Escola Normal em fóco, um protesto oportuno”, publica carta do antigo Diretor, Ignácio Amaral, contra Esther Pedreira de Mello. O missivista usa o sexo de sua opositora, no sentido de, através dele, insultá-la: “Uma tal agressão, partida de um homem seria por todos os modos condenável[...] emanada de uma mulher [...] assume proporções [...] que me abstenho de qualificar [...]”(p.2).
O antigo diretor, provavelmente aborrecido e até mesmo humilhado por haver sido exonerado, fez acusações contra a nova direção, numa atitude de oposição. Mas todas as medidas por ele citadas na longa carta, tinham causado diversas matérias nos jornais. A moralidade estava abalada, não tanto pelas atitudes, ou falta delas, do diretor da Escola Normal. O espaço geográfico agora ocupado pela instituição diferia culturalmente do outro e por esta razão não era compreendido, era tido por ameaçador à moralidade, daí provavelmente a proibição de as normalistas frequentarem os estabelecimentos comerciais do entorno; também pelo grande número de alunos matriculados no educandário, rapazes e moças, que conviviam juntos, boa parte do dia, o que dificultava a disciplina imposta pelos inspetores; o local, vizinho às casas de meretrício poderia, acreditavam, também, influenciar a aprendizagem dos jovens normalistas, que iniciavam sua sexualidade, e efetivamente o fazia. Todos estes “inconvenientes morais” conviviam com a cultura escolar formal, desafiando regras morais do educandário de formação até então consideradas inatacáveis.
Caulfield (1996), ao discutir as relações de gênero nos anos 1920, mostra que, pelo Código Criminal de 1918, que reflete a sociedade onde foi construído, houve manutenção de alguns valores “morais” e declínio de outros, face à vida moderna da mulher, o que incluía o trabalho fora do lar, denotando a transição social entre uma representação de gênero antiga e outra nova que desejava instalar-se:

Diante de mulheres que assumiam novas identidades na década de 1920, os juristas reinterpretaram os conceitos de honestidade e virgindade, de maneira que podiam incluir ou excluir a mulher moderna' dependendo da posição do juiz e das circunstâncias de cada caso. Alguns juristas lamentaram o declínio da família e dos valores tradicionais e categoricamente declaravam que a mulher moderna carecia de virtude. Outros — incluindo conservadores que deploravam
o efeito da modernidade nos papéis de gênero e uma minoria de progressistas que o aplaudiam — achavam que as mulheres modernas, não mais recolhidas em casa, tinham sabedoria suficiente para resguardar sua própria virgindade. (p,169)

                                                                             
Paschoal Leme (2004) relembra os anos de 1920 na Escola Normal e primeiros anos de iniciação sexual dele e de seus colegas do sexo masculino, normalistas, que reflete o porquê da “moralização”:

Era o período da complementação da iniciação sexual, da "descoberta da mulher" e, naturalmente, esse problema constituía uma das preocupações marcantes entre nós. Acrescia que aquele contato com mais de dois milhares de jovens de outro sexo, de todas as procedências e tipos de educação, com a familiaridade e a proximidade física que se estabelecia diariamente, nas salas de aula, nos próprios bancos escolares, nos recreios, exacerbava ainda mais as manifestações dessa natureza; criava um ambiente da atividade ruidosa e descuidada de namoros, amores, paixões intensas, intrigas amorosas, brigas, ciumadas e reconciliações, trocas de juras através de versos e encontros reais [...]Éramos levados em passagens furtivas por aquelas ruas, onde apreciávamos eletrizados a nudez daquelas mulheres, as chamadas "francesas", mas na realidade "polacas", com seus enormes seios e coxas à mostra, a nos fazer sinais amistosos e que nos atendiam, quase maternalmente [...](p.121)

Em 9 de maio, no mesmo jornal, A Noite, com o mesmo título “Escola Normal em fóco”, Esther Pedreira de Mello respondeu ao antigo diretor ” Dirijo a Escola Normal segundo orientação exclusivamente minha. É inútil S. Ex. tentar recorrer à arma da intriga.”(p.2), encerrando a discussão.
Em 11 de maio, em ampla reportagem, A Gazeta de Notícias, com foto das normalistas nas escadarias, e o título sugestivo, quase um lead,[12] na verdade: “A Reabertura da Escola Normal. Os melhoramentos introduzidos. Uma circular do Diretor de Instrução. Rápida “enquete” entre as normalistas. O jornal mostra, então, contradição em relação à campanha que fazia contra a nova direção, usando por retórica palavras afáveis à mulher:

O Estácio de Sá voltou aos seus dias álacres. Fechada a escola com o encerramento das aulas dir-se-ia que aquele trecho do bairro de S. Christóvão perdera o encanto e a graça que a vivacidade das normalistas lhe emprestava. Dezembro levara, numa inquieta revoada, as últimas borboletas daquele jardim de estudos. [...] Enquanto isso, tudo se transformava. Novas providencias eram tomadas no sentido de promover o melhoramento do prédio e a direção do ensino, até então entregue à austera competência  de um representante do sexo forte, passava  à orientação de uma representante do sexo frágil. Agora o Estácio reconquista o seu ar festivo. [...]De novo recomeça a luta: de novo as moças se lançam à conquista de um diploma[...] Em todo caso isso representa um bello symptoma do nosso progresso. A mulher brasileira se ilustra, se emancipa do grosseiro conceito de que “as nossas patrícias são ignorantes”.[...] Presente grande número de alumnas, D. Esther Pedreira de Mello leu um longo memorial pedindo às suas discípulas a fiel observância do regulamento interno do estabelecimento, fazendo sentir que para manter a boa disciplina no recinto da escola contava com o auxílio das próprias alumnas. Os professores, por sua vez, antes de iniciarem suas prelecções [...] leram a circular do Diretor de Instrucção. [...] Tivemos a ocasião de visitar o estabelecimento [...] verificando a boa ordem em que tudo está disposto. [...] Tentamos, então, abordar um grupo de alumnas que faziam “lunch” na sala de Gymnastica [...] – Não senhor, não posso consentir. As meninas não têm opinião. Elas estão satisfeitas porque já me conhecem de há muito...[...] Não desanimamos, porém. Abordámos outro grupo. Todas a quem nos dirigimos estão satisfeitas com D. Esther. Uma senhora, disse a “leader”, sempre sabe compreender melhor os desejos de uma moça, que um homem carrancudo.[...] Em companhia do Sr. Leitão da Cunha, à 1 hora da tarde, esteve acompanhando o Sr. Sá Freire em visita à escola Normal. (p.3)

O que gerava problemas, e mostrava o medo de uma cultura diferenciada, o que a imprensa apenas reverberava, era o entorno escolar: as favelas São Carlos e Matos Rodrigues, e a poucos metros de vizinhança, as casas de meretrício. O entorno de modo algum facilitava as metas de “pudor, recato e moralidade” que a instituição gozava e preservava na Praça da Aclamação, no centro de poder federal e municipal instalado nos prédios de sua antiga vizinhança e que a sociedade carioca acreditava salutar para as moças, principalmente, que eram a maioria do corpo discente. A Escola Normal, em outro endereço teve que conviver com outra cultura – a dos foragidos do “bota-abaixo”, dos pobres, dos imigrantes, dos negros e das prostitutas das muitas casas de meretrício. Eram culturas diferentes: a da escola e a do lugar onde, naquele momento, ela estava situada. A cultura do lugar era espontânea, não era presa a regras de etiqueta ou da “boa educação”, ou ao “recato” que, como categorias diferentes do tecido social deram significado como representação social. A cultura “popular” era apenas uma visão de mundo diferenciada, com outros símbolos, marcas e códigos próprios, mas, com “um espaço entre a norma e o vivido, entre a injunção e a prática, entre o sentido visado e o sentido produzido, um espaço onde podiam insinuar-se reformulações e deturpações” (CHARTIER, 1995, p.182).
O que provocava debates e vendia jornais, eram os debates, os comentários que desqualificam tanto um quanto outro gênero, como d’A Lucta, em primeira página, no espaço Chroniquetas, com o título “Feminismo”, de 16 de junho, assinada por Justus:

A mór parte dos especimens do sexo barbado tem o veso ruim de classificar de fraco o sexo elegante, e negar-lhe capacidade physica, moral e intelectual para umas tantas coisas dessa vida velha, difícil e cara. E em auxilio de suas rebarbativas afirmações costuma essa gente evocar o facto de não possuir o Brazil uma Ruy Barbosa, a França uma Joffre e Portugal uma Colombo.[...] Nos fins do anno passado, uma senhorita no Rio inscreveu-se junto com uma chusma de bacharéis num concurso para amanuense do Ministério do Exterior e apesar dos srs. Lentes pretenderem espichal-a foi ella classificada em primeiro logar e logo nomeada para o cargo o que aliás valeu-lhe uma ironias de um jornalista que, satyricamente se anunciou para amma secca.Em dias deste anno o tribunal do Jury da Capital Federal regorgitava de gente para assistir a estréa de uma bacharela na tribuna da defesa e esta portou-se tão brilhantemente que a numerosa assistência, esquecendo do augusto recinto irrompeu na mais delirante ovação. Ainda há poucos dias, o dr. Leitão da Cunha, diretor da Instrução pública no Rio, para resolver uma crise na direção da eschola normal, teve que nomear diretora da mesma D.Esther Pedreira de Mello porque nenhum bicho barbado se atreveu a manter a disciplina daquele importante estabelecimento, completamente anarchizado, depois que o número de alumnas subiu a mil. E lá está a sra. Esther, dirigindo algumas dezenas de professores de barbas pretas e grisalhas e algumas centenas de alumnas histéricas e melindrosas com uma energia e inquebrantabilidade de que ninguém julgaria capaz uma representante do sexo calumniado[...]

Na verdade a matéria mostrava o que Chartier (1995) denominou de lutas de classificação, quando há embates entre uma representação que deseja instaurar-se e outra, já existente. A representação de gênero, representada por D. Esther, que ampliou o espaço do lar e incluiu a mulher no mercado de trabalho, principalmente após a guerra, vai se impondo a tal ponto que, a própria necessidade urbana e capitalista auxiliou neste processo de mudança.
            Em 9 de junho de 1920, a Gazeta de Notícias já publicava entrevista do novo prefeito do Distrito Federal Carlos Sampaio[13], onde ele anunciava a demissão, a pedido de Esther Pedreira de Mello, enfatizando que “Foi o meu primeiro acto no governo da cidade” (p.2). Este comentário do prefeito Carlos Sampaio inflamou o ambiente da Escola Normal possibilitando aos jornais vários dias de matéria Em 11 de junho, na primeira página, a Gazeta de Notícias sentencia:

Quando o Sr. Sá Freire em um de seus habituaes  momentos de obtusidade, entregou a direção daquele importante estabelecimento de ensino à digna inspetora-escolar, fomos dos que previram um  desastre retumbante para o feminismo... e o ensino.[...] A nova diretora ao ver-se nas alturas que a guindaram, perdeu o prumo... Cada um dos cincoenta e quatro dias da sua administração foi marcado por um acto de originalidade... que desse na vista...[...]

Conclusão

            O debate provocado pela imprensa à entrada, permanência e saída da inspetora-escolar Esther Pedreira de Mello na direção da escola Normal do Distrito Federal é significativo de uma mudança na representação de gênero na cidade do Rio de Janeiro, em 1920. A cidade absorvia através dos jornais, as notícias do mundo que apresentavam, em suas primeiras páginas, um mundo novo fruto da 1ª Guerra que tinha acabado: mais informação, anúncios comerciais para e sobre as mulheres, peças de teatro, consolidação do cinematógrafo, das fotos mais elaboradas, anúncios de cursos, de novas tecnologias usadas para o ensino profissional[14] e de novas representações sociais, dentre elas o novo papel da mulher de uma trabalhadora fora do lar. O Código Criminal, de 1918, já descriminalizava algumas situações e incluía outras mostrando um tecido social de transição de representações. Sem entrar no mérito do acerto ou erro das medidas tomadas por Esther Pedreira de Mello, era pelo que representava, em termos de gênero, que os jornais julgavam, se contradiziam ou defendiam, poucas e raras vezes, a diretora. O tratamento, quando era de defesa da representação, deixava que o leitor se impregnasse de imagens recorrentes à mulher: docilidade, romantismo e subserviência, como fez a Gazeta de Notícias, ao noticiar a abertura do ano letivo. Se o objetivo era um julgamento contra a representação, mas que desejasse incluir, dentre seus leitores a mulher, usavam, como o fez o Jornal das Moças, versos de um poeta conhecido e lido por mulheres, Capistrano de Abreu. Mas tais jornais também se contradiziam mostrando que a representação de gênero não estava, ainda consolidada em novos paradigmas. Os 54 dias de administração de Esther Pedreira de Mello frente à Escola Normal foram decisivos para deixar visível, nos discursos jornalísticos dos periódicos diários da cidade do Rio de Janeiro, a luta de representação social de gênero em prol da dominação de uma representação pela outra.
Referências

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BIBLIOTECA NACIONAL. Periódico A Noite, da cidade do Rio de Janeiro, (exemplares de 1916. a 1923); Periódico Correio da Manhã, da cidade do Rio de Janeiro (exemplares de 1920 a 1923); Periódico Gazeta de Notícias, da cidade do Rio de Janeiro (exemplares de 1920 a 1923); Periódico Jornal das Moças, da cidade do Rio de Janeiro (exemplares de 1920); Periódico Na Barricada: jornal de combate e de crítica social, da cidade do Rio de Janeiro (exemplares de 1915 e 1916); Periódico O Imparcial, da cidade do Rio de Janeiro (exemplares de 1920)

BUITONI, Dulcília Schroeder. Imprensa Feminina. 2ed. São Paulo: Ática, 1990.

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[1] Rago (2006) ao descrever a representação construída para as mulheres, mostra que depende do grupo que, culturalmente, a define, elas eram “frágeis e infelizes para os jornalistas, perigosas e “indesejáveis” para os patrões, passivas e inconscientes para os militantes políticos, perdidas e “degeneradas” para os médicos e juristas”, isto é, a “construção masculina da identidade das mulheres trabalhadoras  [é que] define a percepção de sua condição sexual, social e individual” (p.579)



[1] Manchete do jornal Correio da Manhã, de 20de janeiro de 1920, p.3
[2] Tratada por Tedeschi (2008) como uma “construção histórica filosófica dos vários discursos que em certa época conferiram um caráter científico e natural aos papéis da mulher, do que significa ser mulher”(p. 12).
[3]O Jornal das Moças circulou entre 1914 e 1965. Era apresentado como "Revista Semanal Ilustrada".. Circulava às quartas-feiras, e era anunciado como “Jornal das Moças - A revista de maior penetração no lar”. Fundado em 1913 por Agostinho Menezes, era propriedade da Editora Jornal das Moças Ltda. Possuía 75 páginas, com textos e ilustrações, inspirado nos magazines ilustrados e revistas de variedades do século XIX, abordando assuntos de interesse da mulher. .
[4] “Fundado por Edmundo Bittencourt, foi um dos mais longevos e importantes jornais brasileiros do século XX. Desde a primeira edição, em 15 de junho de 1901, caracterizou-se, nas palavras de Nelson Werneck Sodré, por um “ferrenho oposicionismo, de extrema virulência”, em contraste, segundo o historiador, com o “extremo servilismo” de jornais concorrentes.” (Arquivo Nacional, disponível em http://hemerotecadigital.bn.br/historicos?page=2 Acesso em 20/12/2012)
[5] “Recupera-se aqui certa dimensão do caráter classificatório embutido na noção de gênero e, ao mesmo tempo, com as noções de pessoa (formas objetivadas de relações, agentes virtuais), agente (“agent”: autor de pensamento e ação), ação, eventos e relações sociais, coloca-se em cena a dimensão das relações sociais e dos atores sociais” (KOFES 1992, p.22)
[6]“O Correio da Manhã deixou de circular em 1974, mas pode-se datar sua morte de alguns anos antes: 13 de dezembro de 1968. Naquela noite, assim que o locutor Alberto Curi terminou a comunicação do AI-5 ao país pela televisão, agentes do DOPS (Delegacia de Ordem Política e Social) atravessaram a rua e invadiram a sede do jornal” (Ruy CASTRO, 2009).
[7] A professora Esther Pedreira de Mello embora citada pela historiografia, nunca foi designada com qualquer cargo que ocupou: professora de Pedagogia da Escola Normal (1902), inspetora-escolar do 2º distrito (1902), membro do Conselho Superior de Instrução (a partir de 1904), diretora da Escola Normal (1920), presidente (1916-1919) e depois redatora (1919-20) da Sociedade Anonyma “A Escola Primária”, diretora da Escola Secundária Profissional, membro da Conferência Interestadual do Ensino Primário (1921), representando o Distrito Federal e  responsável pela Comissão de Educação, da I Conferência pelo Progresso Feminino (1922) .
[8] Manchete da notícia publicada na primeira página da Gazeta de Notícias, em 17 de abril de 1920.
[9] O periódico Gazeta de Notícias foi publicado no Rio de Janeiro, de 1875 até 1942. Fundado por Manuel Carneiro, Ferreira de Araújo e Elísio Mendes era inovador abrindo espaço para a literatura. Neste jornal foi iniciada a campanha abolicionista por José do Patrocínio. Escreveram para o jornal: Machado de Assis, Capistrano de Abreu, Euclides da Cunha, Eça de Queiróz e Ramalho Ortigão, entre outros.
[10] O soneto “As pombas” foi publicado originalmente no livro "Sinfonias", Livraria Editora de Faro & Lino - Rio de Janeiro, 1883, e extraído de "Poesias completas", organização, prefácio e notas de Múcio Leão, Ed. Nacional - São Paulo, 1948, p.38.
[11] O número de moças na Escola Normal era infinitamente maior do que o de rapazes.
[12] “Na estruturação da notícia, o jornalismo adotou as técnicas norte-americanas do lead e da "pirâmide invertida". O lead era a abertura do texto, o primeiro parágrafo, que devia resumir o relato do fato principal, respondendo a seis perguntas básicas: quem?, fez o quê?, quando?, onde?, como? e por quê?
Símbolo máximo do jornalismo moderno, o lead veio substituir o "nariz de cera", texto introdutório longo e rebuscado, normalmente opinativo, que antecedia a narrativa dos acontecimentos e que visava a ambientar o leitor.”(RIBEIRO, 2003, p.149)
[13] Carlos César de Oliveira Sampaio (1861 - 1930) foi político e engenheiro. De 1920 a 1922 substituiu o Eng. Sá Freire como Prefeito do Distrito Federal.
[14] Encontramos anúncios da Escola Secundária feminina com uso de máquinas de escrever Remington, para as aulas de datilografia ( A Noite, 4/4/1916, p.2)

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